sexta-feira, 15 de março de 2019




O AMOR QUE TU ME TINHAS
Ciranda, cirandinha Vamos todos cirandar 
Vamos dar a meia volta. Volta e meia, vamos dar 
O anel que tu me deste era vidro e se quebrou 
O amor que tu me tinhas era pouco e se acabou

Algumas peças do folclore parecem um vaticínio em algumas vidas. A quadrinha acima faz uma boa síntese do meu roteiro amoroso. Certamente o trovador passou pelo mesmo, sem muitas explicações científicas.
O tema a ser tratado aqui é o abuso emocional. E embora seja um tema multidisciplinar, terá um caráter mais informativo e não se enveredará por áreas específicas como a psicologia ou criminologia, mesmo assim um ou outro termo mais técnico pode aparecer, mas apenas como guia para que possam fazer suas próprias buscas.
A escolha deste tema, não é somente porque começou a aparecer nas mídias. Alguns filmes chegam a mencionar as relações tóxicas, já encontramos nas livrarias livros sobre relações tóxicas, que não é nada menos que relações de abuso emocional, no entanto, o tema precisa ser melhor esclarecido e mais amplamente divulgado.
Abuso emocional não deixa marcas físicas é muito difícil de provar, lembra a tal surra com toalha molhada, (não consegui nenhuma confirmação de que não deixa mesmo hematomas), mas devasta a alma dos alvos. A hipótese é de que as marcas emocionais deixadas são as mesmas que vítimas de terremotos grau 5, gerando assim, sintomas de transtorno estresse pós-traumático. (TEPT)
As redes sociais, volta e meia têm alguma referência ao abuso emocional ou relações tóxicas. Alguns coachs vêm explorando bastante essa área em vídeos no Youtube contudo, acabamos vendo mais do mesmo. Não que isso seja ruim, afinal a repetição termina por gerar fixação. Contudo o enfoque acaba sendo para um perfil de pessoas específicas, tais como os psicopatas e pessoas com transtornos narcísicos.
Essas pesquisas foram orientadas por leituras e entrevistas do autor   Robert Hare, psicólogo canadense e tido como maior especialista no estudo de psicopatas,  Iñaki Piñuel ,psicólogo espanhol que tem publicados trabalhos sobre abuso em diversos setores, como no trabalho, escolas e agora nos relacionamentos e Meredith Miller coach que tem um trabalho de alerta no youtube , é escritora sobre o assunto de abuso emocional. Usaremos para definição o trabalho da psicóloga Sally Karina Bodsky em sua tese de mestrado pela Universidade Federal do rio Grande do Sul: Novas perspectivas sobre abuso emocional.
Nas buscas por material acadêmico sobre o abuso emocional, o que sobressai são informações sobre abuso emocional de crianças. A definição, todavia, servirá para as relações de violência doméstica e abuso emocional em geral e não passou por nenhuma customização.

O QUE É O ABUSO EMOCIONAL?

No trabalho de Brodsky 2010, vamos encontrar uma definição feita por Myers, 2002 que diz: “atos de omissão ou de autoritarismo”. O que nos diz que não é apenas agressão verbal, submissão através do poder. Desatenção com as necessidades básicas, que incluem afeto também é abuso emocional.
Encontramos também em seu trabalho a definição de negligência emocional ou privação de resposta emocional: “ resultados de atos sutis ou ruidosos de omissão ou de autoridade, por pessoas individualmente ou em conjunto”. Neste caso vamos nos limitar a relação casal, portanto, de um indivíduo em relação a outro.
Seu parceiro (a) - vamos deixar no gênero masculino, mas não há distinção de gênero para sofrer abuso emocional, embora, hoje as mulheres tenham começado a se manifestar muito mais -, quando faz jogos com você para forçar que você faça o que ele quer, a troco de castigos como silêncio, está usando de uma manipulação tão dolorosa quanto quando usa de xingamentos. Isso mexe com a autoestima e causa sofrimento.

 COMO IDENTIFICAR SINAIS DE ABUSO EMOCIONAL EM UMA RELAÇÃO

Algumas situações podem dar pistas:
·                    Num primeiro momento a pessoa é a mais gentil, doce e romântica que você já viu na vida.;
·                     Ele se parece com a pessoa que você sonhou para resolver suas necessidades;
·                    Sempre disponível, disposto a cuidar de você. Segundo ele, você é a pessoa mais importante de sua vida;
·                    Ele liga para você a todo momento com a desculpa de que se preocupa muito com você? Quer saber de todos os seus passos?
·                    Visto que você já está dependente, começam as triangulações. Triangulações são estes jogos em sempre tem alguém ou alguma coisa que eleva a suposta importância do parceiro. Por exemplo, ele (a) já terminou o relacionamento anterior faz tempo, mas segundo, ele, é o outra que não para de procurá-lo e, ele não para de estimular isso.  Ele sempre tem alguém interessado nele, que ele faz questão que você saiba, gerando assim um ciúme e insegurança de sua parte. Às vezes essa triangulação é com a tv, com os amigos do futebol, apenas para mostrar que é ele quem está no domínio da situação. Depois, como se nada houvesse ocorrido, ele se volta o mais gentil possível para você.
·                    Você era a pessoa com o corpo mais desejável que ele conhecia, agora já tem alguns “defeitinhos”, algumas imperfeições que poderia dar uma ajeitadinha?;
·                    Ele confia em você, mas não nos outros, por isso não é bom você ficar indo aos lugares sem ele;
·                    Sua família se intromete demais no relacionamento de vocês, é melhor que vocês se distanciem deles para poderem viver o “amor” de vocês em paz.
·                    Ele (a) é um injustiçado (a), as pessoas que não o compreendem?
·                    Suas amigas também se intrometem na vida de vocês, ele quer que você se afaste delas?
·                    Você precisa entender que ele é a única pessoa que quer o seu bem?
·                    Ele diz que faz tudo por você e de repente você está se vendo atolada dentro dos problemas e da vida dele até o pescoço?
·                    Você reclama que está sendo usada, ele diz que você é louca, que não vê o quanto ele faz por você?
·                    Aliás, quantas vezes você ouviu dentro deste seu relacionamento: “você está louca!”  “eu nunca disse isto!” “Você sempre inventa coisas que eu não disse! ”, ou, “você põe palavras na minha boca”.
·                    Ele diz que nenhuma outra pessoa vai te amar o quanto ele lhe ama, porque você é uma pessoa difícil, só ele tem essa paciência com você?
·                    Você nem merecia ser tão amada assim por ele, já que não faz o que ele pede?
·                    Tudo é manipulado na relação de vocês com sexo? Ou você é obrigada a dizer “sim” sempre que seu parceiro quer sexo?
·                    Você não está bonita para ele quanto era no começo?
·                    Ele te joga nas alturas apenas para poder jogar para baixo em seguida, pois tem sempre um “porém” em você?
·                    Para demonstrar seu desagrado, ele soca ou quebra móveis?
·                    Grita com você em público?
·                    Ele tem desdém de suas conquistas? Não comemora com você?

Talvez sua intuição tenha tentado lhe alertar, mas você achou que estava mesmo vendo coisas onde não havia. Seus parentes e amigos também já chamaram atenção e mesmo assim, você está se sentindo impotente para sair desta relação?
Esteja em paz, você não covarde, nem é masoquista. Existem algumas ações maquiavélicas por traz desta dificuldade romper esta relação.
Entender o que acontece é primeiro passo para a liberdade. Não é o único, mas é o começo.
A palavra desilusão parece algo indesejado, traz logo a imagem de sofrimento. Porém se olharmos com mais cuidado, desilusão significa perder a ilusão. Viver iludido é viver numa fantasia. É isso que os ilusionistas fazem para nos distrair, usam nossa mente contra nós. 
Já viram aqueles truques de cartas onde o mágico pede que escolhamos uma e ele sempre acerta qual foi a que escolhemos ?  O segredo do truque está em ele mostrar uma sequência de cartas, pedir que você se concerte nela e depois quando ele mostra novamente a sequência de cartas a sua não está lá porque a sequência embora seja bem parecida com anterior, não contém nenhuma das cartas que estavam lá.
 Enquanto você atentava para sua carta, esquecia de prestar bastante atenção nas demais.
Depois que você descobre o truque, o encanto se vai, por isso ilusionistas não saem por aí contanto seus truques.
O mesmo acontece com algumas pessoas que são voltadas para abusar e parasitar outras pessoas. Com a ajuda do nosso cérebro geram uma espécie de magia que enreda o alvo. Se passamos a conhecer o que ocorre no processo, temos mais chances de evitar estes enganos e sair de algum se estamos mergulhados nele.
Nosso cérebro na fase de paixão produz largamente uma substância chamada Feniletilamina, e o que faz essa substância?
A Feniletilamina controla outras três substâncias que também nos levam à transformação na época da paixão. Todos os apaixonados têm características em comum, como a falta de sono, de apetite, falta de concentração em diferentes atividades que não sejam ligadas ao parceiro, tudo isso proveniente de uma fabricação descontrolada de substâncias como a Norepinefrina, a Serotonina e a Dopamina. (MUSITANO, Mariana)

Em resumo você está tendo os mesmos sintomas de alguém que usa drogas.
Como ocorreu isso? Possivelmente houve uma fase em que você era a pessoa mais interessante da vida do seu par. Mensagens o tempo todo, músicas escolhidas para o amor de vocês, ligações só para lhe dizer que você é o amor definitivo da vida dele... Até aí, não foi descrito nada menos que uma primeira fase da paixão. O grande problema é que logo após essa atenção excessiva, haverá momentos de completo descaso, como se tudo aquilo que é chamado bombardeio de amor, em inglês,  love bombing  termo cunhado por um psicólogo britânico  Oliver James, não existisse mais de um momento para o outro deixando o parceiro completamente confuso, a intenção é mesmo causar dependência emocional. Embora quando cunhada, a expressão se referia a experimentos feitos para “reiniciar a criança interior” e foi usada para pais lidarem melhor com seus filhos em relações difíceis, dando melhor qualidade de atenção alterando uma determinada área do cérebro,.. O alvo fica perdido, e na expectativa de voltar a receber aquele amor do começo, se torna cada vez mais permissivo, e submisso. Esse é um círculo que vai acontecendo com frequências cada vez maiores, até que o alvo já esteja totalmente dominado e sem forças para sair da relação. Há uma grande semelhança com os movimentos do traficante na porta de escola distribuindo balas com droga, até que gere vício, e então cobrará os favores.
Os favores, são a entrega e submissão total, daí para adiante terá muita dificuldade em se desvencilhar desta relação.
Ah, e o sexo! Muitas destas relações são manipuladas com o sexo, sempre no mesmo roteiro de bombardeio de amor, um sexo com muito desempenho para fascinar o alvo e depois tempos de abstinência. A tática funciona porque para um miserável, é como água encontrada no meio do deserto, pode não ser da melhor qualidade, porém é a que vai matar a sede daquele que está desidratado em terreno árido há algum tempo.
Quando acontece um brilho de lucidez no parceiro que vem sofrendo esses abusos, a separação é um martírio. Mais fácil negociar a alma com diabo. Segundo Dr. Iñaki Piñuel, a média de separação e retorno nestes tipos de relacionamentos é entre sete a nove vezes.
Estamos lidando uma condição de vício.

DISSONÂNCIA COGNITIVA

Nosso cérebro contribui, nestes casos, com um truque: no intuito de sobreviver ele vai ocultando todo o sofrimento que o alvo sofreu e o faz lembrar apenas dos bons momentos. Possivelmente, viram a frase: MAS ELE NÃO ME BATE. Há até uma página no Instagram voltada para esses alertas de abuso.  É uma ótima justificativa. Está esperando mais o que para apanhar? Muitas pessoas irão esperar o apanhar e, talvez até encontrar a morte física, porque a morte ou coma emocional já está configurada.  A isso é chamado de dissonância cognitiva.  Quando o abusador vai atrás do alvo com novo bombardeio de amor, fazendo com que esse apenas se lembre dos bons momentos que passaram, é rede lançada com quase 100% de chances de acertar.
Esta pessoa é uma tola? De forma alguma, apenas está sem defesas, e cérebro não está ajudando muito.
Existe algumas colocações que se verificam como padrão quando o alvo se separou e o abusador quer ter de volta seu brinquedo. Eis algumas:
·         Resolvi fazer terapia; para os que são mais esclarecidos, essa é uma tática que teoricamente visa a salvar o relacionamento. No entanto, muitas vezes se configura em mais martírio para o alvo, pois uma vez no consultório do terapeuta, na maioria das vezes conseguirão convencer que foram vítimas deste relacionamento e que a outra parte é que não está dando a chance que ele precisa para se regenerar. É muito provável que o alvo saia do consultório do terapeuta necessitando ir para o psiquiatra.
·                    Eu conheci essa pessoa na última vez que estávamos separados; uma tática para gerar ciúme e fazer com que você ainda queira voltar para salvar o relacionamento que você acha que tem com esse abusador.
·                    Podemos ser só amigos. Não quero perder totalmente o contato com você porque gosto muito de você. O que espera é ter uma amizade colorida, para se servir de você quando surgir alguma fraqueza sua. (Contato zero quando terminar um relacionamento)
·                    Sabia que não era a pessoa ideal para mim. Para fazer você sentir culpado e tentar reparar o “dano” que causou ao seu abusador.
·                    Sinto muito por ter magoado tanto você, queria fazer algo para compensar isso. Então vêm os convites para jantares, saídas, que terminam em algum encontro de resgate se saudades.
·                    Amo só você. Você é única pessoa que amei de verdade. Vai dizer isso para todos os próximos alvos que caírem em sua rede.
·                    Quando estive longe de você, me dei conta de que você é a pessoa da minha vida. Pode vir a proposta de uma formalização de um casamento, se não houve antes, ou de uma renovação de votos. Se você acreditar nisso, pode decretar seu definitivo sepultamento.
É possível que você seja uma pessoa que acredite que todos devem ter segunda chance, que as pessoas podem se arrepender e por que não dar um a segunda chance, afinal, esta pessoa teve uma vida tão difícil? 
Tome uma devida distância, faça suas próprias pesquisas junte os sinais, analise se esta não é uma situação que se repete com frequência. Sim, pessoas cometem erros, principalmente quando estão em algum a situação de crise, contudo é preciso verificar em que medida isso vem se repetindo.  Se ocorreu uma vez e não voltou a acontecer, pode ser que mereça uma chance. Avalie o todo, junte as peças do quebra-cabeças.

DESAMPARO APRENDIDO

Muitas vezes o alvo, quando dentro da situação não enxerga saída e vai encontrando desculpas para justificar a situação em que vive. Isso também tem nome: Os espanhóis chamam de indefensión aprendida, para nós veio com o nome de desamparo aprendido.
O psicólogo americano Martin Seligman, nomeou esse fenômeno baseado em uma pesquisa realizada na década de 70. Testaram cachorros em gaiolas com choques. O primeiro grupo recebia choques nas patas traseiras mas poderia pará-los com o focinho. O segundo grupo não tinha chances nenhuma de pará-los e o terceiro não recebia choque algum. Após algum tempo deste tratamento foi anexado um compartimento junto as gaiolas e possibilitaram o acesso ao novo compartimento. O primeiro grupo não encontrou dificuldades em sair, como entenderam que poderiam parar a dor, escapar era uma opção. O segundo grupo, no entanto, teve muita dificuldade em aprender, pois não entendiam que a dor poderia parar. Desenvolveram depressão
Acontece o mesmo com pessoas que passam muito tempo em situações dolorosas. Elas chegam a um ponto em que não veem saída, e forjam desculpas dizendo que relacionamentos são difíceis mesmo.
Por muito tempo, eu repeti, ingenuamente a frase: “ignorância é uma bênção”, era em tom jocoso, hoje, porém, vejo que quando dou nome aos meus fantasmas fica mais fácil de lidar com eles, muitas vezes exorcizá-los. Se consigo entender que há todo um mecanismo que joga numa teia de aranha quando se trata de relacionamentos eu encontro um norte para as buscas da saída. Relacionamentos assim não têm de ser para sempre!

 QUEM SÃO OS ABUSADOS E ABUSADORES?

Não há uma definição definitiva de ambos os perfis.
Existem os que defendem que os abusados seriam pessoas que viriam de famílias disfuncionais, onde, algumas vezes tiveram que inverter os papéis de cuidados a cuidadores.  Famílias onde um dos pais era drogadicto, omissos afetivos ou em que os cuidadores fossem muito autoritários fazendo com que se formasse uma personalidade sempre submissa, com o desejo de agradar, ignorando assim sinais de alerta por desde cedo lhes foi ensinado que precisavam obedecer sem questionar. ( Essa é uma das teses)
Robert Hare - o maior especialista em estudo de psicopatas -, contudo, diz que se o abusador tiver fissuras narcísicas ou psicopáticas, não tem ninguém livre de ser alvo. É preciso deixar claro que nem todo abusador é um psicopata, porém todos têm fissuras de personalidade. Algo se quebrou durante o caminho sem condições de colar.  Ele mesmo pode cair nos encantos de algum. O que parece favorecer que se fixem em alguns alvos e noutros não, é situação de vulnerabilidade que este alvo se encontre. Algumas vezes em condições financeiras difíceis, noutra, acabou de sair de um relacionamento doloroso, eis que vai aparecer a pessoa mais solícita para tirar o alvo de sua penúria. (É como sair da frigideira para o fogo).
Entretanto, em seu livro Sem consciência, ele se refere a pessoas com instinto maternal, que gostam de cuidar dos outros, como mais prováveis alvos, pois guardam uma ingenuidade de que todos merecem uma nova oportunidade e de que não existem pessoas más e sim pessoas que tiveram problemas durante a vida.  Você se enquadra neste perfil? Passe observar o tipo de pessoa que você atrai para a vida.
O abusador é o sujeito que tem os encantos mais fascinantes que se pode esperar num primeiro momento, ou pelo menos tenta parecer esse ser. Existe um esforço para se tornar a alma gêmea que a outra pessoa estava buscando. Um fenômeno que é denominado mimetização. É o mesmo que acontece com o camaleão, por exemplo, que muda de cor de acordo com a paisagem que se encontra. A diferença é que o camaleão o faz por defesa contra os predadores, o abusador faz com o intuito de ser o predador. Logo depois o alvo passará por todo o processo de dar e tirar, que causará a destruição da autoestima do alvo e consequente dependência.
O conselho que o maior especialista em estudo de personalidades como estas nos dá é: “ se tem uma pessoa destas em sua vida, CORRA!”
E se ainda acha que ele só está passando por um período difícil, e que isso passará, pague com mais tempo de sua vida para verificar que não.
O abusador pode ou não ter vindo de uma criação omissa ou autoria, porque muitos deles são encontrados em boas famílias, inclusive amorosas.
É necessário aceitar que algumas pessoas podem ser destrutivas e é melhor ficar longe.

18 Sinais que seu abusador emite e que podem ajudar você a uma identificação precoce de que está para entrar ou entrou numa relação abusiva.

1- Simpatia e encanto superficial;
2- Se torna sua alma gêmea instantaneamente;
3 - Bombardeio de amor no início (sedução)
4- Culpa você de tudo e ignora a própria culpa. (Jamais de desculpa por nada - se o fizer é para ganhar algo de você)
5-Mentiras constantes e inconsistência em suas versões.
6-  Contato visual hipnótico. (Domínio pelo olhar).
7- Se muda para viver com você rapidamente.
8- Simula ser vítima. Faz-se vítima da pessoa que ele abusou. (jogo de vitimismo).
9- Apresenta dupla personalidade.
10- Frieza e carência de emoções;
11- Olhar frio, vazio, sem alma, como olhar de cobra.
12- Arrogância, orgulho, soberba, dominação (raiva, ira e agressividade se as coisas não saem como ele deseja.)
13- Aborrecimento fácil (não perseveram em trabalhos, tarefas e relações)
14- Descarta você o deixa jogado como um a cachorro friamente e sem alma quando já não serve mais (fase de depreciação e descarte).
15- Estilo de vida parasitário (vive do esforço, trabalho, dinheiro) dos outros.
16 - "Lágrimas de crocodilo"(choro sem lágrimas, choramingo em falsete, cenas teatrais, grandes confusões sem conteúdo emocional profundo.)
17-  Incapacidade total de compreender como funcionam as emoções que você expressa, como você está se sentindo (ausência total de empatia ou estupidez emocional).
18 Habilidade para manipular aos demais para que façam o que eles querem.
(Livre tradução de fragmentos do livro Amor Zero de IñaKi Piñuel)

NOTÍCIA: NUNCA HOUVE AMOR!

Como assim, nunca houve amor?
A boa e má notícias é essa. Tudo um jogo de sedução. Dr. Iñaki Piñuel lança a teoria de Amor Zero que é o que você recebeu ao longo deste relacionamento, ou seja, nada de amor. Muitas iscas e jogos manipulatórios.
Mas esse relacionamento durou anos, uma vida inteira, talvez. Nunca houve amor? Segundo essa teoria, tudo não passa de uma troca de utilidades. O alvo tem algo que interessa ao abusador, seja uma posição social, seja boas condições financeiras, seja suprimento afetivo. Algo será explorado, o que ele chama de estilo de vida parasitário. E, se porventura o alvo não tiver mais o que doar, será tranquilamente descartado. Terminará com um buraco negro de emoções assim como aquele que o usou pelo tempo em que durou a relação. E mais, esses abusadores têm uma incrível capacidade de virar o jogo contra o alvo. Geralmente contarão uma triste história de como foram prejudicados pela pessoa com quem viviam. Como podem ser muito convincentes, muitas vezes, a própria família do alvo se volta contra quem passou o abuso.
É terrível se ver como apenas uma utilidade, porém, o lado bom, é que assim facilita - nem tanto, quem passa por isso sabe -, mas facilita um pouco o desvínculo e luto desta relação. Não havia nada, apenas uso.

EXISTE VIDA APÓS ABUSO?
Existe vida após abuso, necessita muita generosidade consigo mesmo, pois ninguém sai de uma relação de abuso em condições de correr uma maratona. A recuperação é a passos lentos, auxílio de pessoas queridas e em quem confie é fundamental. Ajuda profissional também. Será como reaprender a andar nos campos da emoção. Situações de medo, surgirão, muitas vezes a sensação de inutilidade, culpa, raiva, tristeza e até depressão.
Nenhum contato com a pessoa que lhe causou os danos. Se não for possível contato zero por causa de pendências financeiras, questões de negócios e filhos, limitar ao máximo a comunicação. Deixar um endereço de e-mail e basta. Responder as perguntas de forma mais simples possível e não aceitar provocações.
Parar de investigar redes sociais em busca de saber como está a outra pessoa. Esse afastamento é fundamental para a recuperação.
Abstinência de relacionamentos por um tempo, é fundamental, Dr. Piñuel sugere de um a dois anos com tratamento. E não saia buscando o próximo relacionamento no dia seguinte, nem semana seguinte, ou mesmo no mês seguinte, as chances repetir o padrão de escolha é imenso.  O mundo não está contra você, porém, será necessário um tempo para avaliar e reavaliar suas atitudes, enxergar melhor as outras pessoas que o rodeiam e as que tentam entrar na sua vida.
Entender os padrões de escolhas será de grande ajuda. Anote, o que há de comum nos seus relacionamentos abusivos. O tipo de características que você tem que possa atrair este tipo perfil.
Dr. Piñuel  também aconselha a fazer um diário de horrores, é doloroso e talvez por causa da dissonância cognitiva você tenha dificuldades de lembrar, peça então ajuda de quem esteve mais próximo de você durante a relação. Anote tudo que puder mais tarde acender suas luzes de alerta que antes estavam desligadas. 
Você pode ser uma pessoa que gosta muito de ajudar as pessoas, que quer fazer a diferença na vida das pessoas, comece fazendo a diferença em sua vida, salve a si mesmo.
Meredith Miller do Inner Integration, por ter passado por situações de abuso deixa um recado muito claro: “a única pessoa que pode salvá-lo é você mesmo”. Use isso como mantra, mesmo sabendo que precisará de um grupo de ajuda, entenda que não poderá apoiar-se em nenhum príncipe encantado.
Aliás, lembre-se se conheceu alguém e essa pessoa se tornou da noite para o dia a sua alma gêmea, a pessoa que você acha que entende você e é sua imagem refletida, prepare-se para fugir. Não existem almas gêmeas, todas as pessoas que passarão por nossas vidas terão suas falhas e caberá a nós entendermos se estamos dispostos a acolhê-las.
Haverá um momento de desintoxicação tão duro quanto os que sofrem a abstinência de drogas. Afinal passou pelo mesmo processo de vício, mesmo que não tenha utilizado nenhuma droga ilícita.

PROTEJA-SE!

Dr. Hare faz uma analogia com o sistema de segurança das casas e o nosso sistema de segurança. Ele nos lembra que é menos provável que um ladrão entre numa casa sem sistemas de alarme e cães bravos que numa casa sem proteção. Assim será com nossas vidas. É preciso ter alguns alarmes ativados, embora não seja impossível de serem violados, nossa segurança.
Saiba com quem está lidando. Conselho quase óbvio, porém, não tão fácil de cumpri-lo. Entender a natureza de gente que abusa é um grande diferencial na vida de pessoas com excesso de fé nas outras, que são generosas, solícitas ou que estejam vulneráveis por causa de algum infortúnio amoroso.
Esses abusadores são encontrados em quaisquer níveis da sociedade, têm uma incrível capacidade de perceber o ponto mais frágil onde deverão atacar.
Tente não se deixar seduzir pelas aparências, aquela pessoa encantadora com um sorriso muito cativante, a fala muito bonita, que prende, uma voz bonita mãos que se movimentam bastante, com respostas rápidas e engenhosas, tudo orquestrado, podem conseguir enganar o alvo como o mágico que faz truques de cartas, num envolvimento quase hipnótico. Preste atenção naquele olhar que desconserta durante a conversa, olhar fixo e ao mesmo tempo sem emoção. Olhar de réptil pronto para atacar. Evite prestar atenção aos olhos e tente ouvir o que a boca diz, se não forem coerentes, é possível que essa pessoa esteja querendo enredá-lo.
Entre nos relacionamentos com os olhos bem abertos. Em geral essas pessoas aparecem com máscaras de melhores pessoas, nos cercam de elogios e ao mesmo tempo nos contam histórias inventadas de seus incríveis empreendimentos. Aos poucos aparecem as contradições e a máscara começa a cair. No entanto, uma vez enredado na trama de engano, fica difícil não sair arrasado emocionalmente e muitas vezes financeiramente.
Ninguém precisa se tornar um paranoico com mania de perseguição, mas ao conhecer uma pessoa nova faça-lhe perguntas simples acerca de sua família, negócios, amigos, onde vive... etc. Se as respostas forem evasivas, há aí um bom motivo para suspeitar. Procure verificar.
Durante viagens em que esteja principalmente em bares de solteiros, aeroportos internacionais, clubes, cruzeiros complexos turísticos entre outros, atente para as companhias que se apresente excessivamente simpáticas como se por enquanto soubessem de todas as suas necessidades. Cuidado com as histórias que ouçam.
Pessoas só são o alvo predileto de abusadores, e outros tipos de personalidades desviadas, por causa de sua aparência triste e desorientada.
Conheça a si mesmo, parece mais um clichê, até pode ser, mas esse clichê ajudará a identificar seus pontos fracos e a protegê-los se alguém atacá-los.
Sendo uma pessoa que gosta daquelas abordagens cheias de elogios, entenda que é um convite para algumas pessoas predadoras entrarem em sua vida. Bajulações são agradáveis no início e muito dolorosas ao fim.
O conhecimento de si mesmo não é fácil, peça ajuda aos familiares, a profissionais, amigos, faça uma autoanálise sincera. Proteja-se!


DIZES QUE GOSTA DE MIM
Pedro Abrunhosa
Dizes que gosta de mim
Que me amas assim
Que vai para aonde eu for
Que só queres o meu melhor
Que me bates por amor
Dizes que gosta de mim
Dizes que gosta de mim
Que não chegamos ao fim
Que eu ando desastrada
Que foi o degrau da escada
Que não é tua mão fechada
Dizes que gosta de mim
Eu vim para te dizer
Voltei a ser quem eu me lembro
Ser livre em setembro
Sou dona do meu corpo
Antes vivo do que morto
Não gostes mais de mim
E foi para isso que eu vim
Não gostes mais de mim
Dizes que gosta de mim
que este vestido é infindo
Que sou tua metade
Mesmo contra a vontade
Me dás muita liberdade
Dizes que gosta de mim
Dizes que gosta de mim
Que sou flor do teu jardim
Que não vais me deixar partir
Que eu não devo estar a ouvir
Só há entrar e não sair
Eu vim para te ver
Para olhar-te cara a cara
E na minha repara
Que a coragem também chora
Que eu hoje vou embora
É foi pra isso que eu vim
Não gostes mais de mim
Não gostes mais de mim
 


Referências:

BRODSKY, Sally Karina. Abuso emocional: suas relações com autoestima, bem-estar subjetivo e estilos parentais em universitários. 2010- Disponível em: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/26809
Miller, Meredith -Transform your life after abuse -  Disponível em  < <https://innerintegration.mykajabi.com/ >
MUSITANO, Manuela. A bioquímica da paixão. Disponível em < http://www.invivo.fiocruz.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=1001&sid=8>
PIÑUEL, Iñaki – Amor zero. Final edition – LDVM. Madrid, 2016
SOUSA, Taíz .O Desamparo Aprendido – Sentimento de impotência e incapacidade. Disponível em <https://www.psiconlinews.com/2015/07/o-desamparo-aprendido-sentimento-de-impotencia-e-incapacidade.html>
Whithout Consciente. Hare, Robert - The Guilford Press, Nueva York y Londres - 1993

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

DEPOIS DA ENCHENTE


Enquanto eu caminhava, o vento marcava em meu rosto um mapa forjado com lágrimas que jorravam despudoradamente. Elas vinham da minha reserva de dor, que teimosamente, preferi guardar. Simbolizavam também, meu grito surdo que emudeceu antes mesmo de passar pela garganta. E eu seguia travando uma dantesca batalha com meus pensamentos. Numa neurose interminável. O próprio ouroboros da insanidade. Muitas vezes pensei: como teria sido para tantas pessoas terem suas vidas transformadas pelas calamidades, enchentes, por exemplo? Num momento adormecem e no outro, acordam com a vida inundada e uma forte corrente levando tudo... Vidas indo, literalmente, por água abaixo. 
Eu vi minha vida sendo inundada por uma torrente de emoções mal resolvidas. Fui me afogando em atitudes desesperadas, agarrava-me à primeira possibilidade de manter-me emersa. Pelo menos era isso que eu pensava. Quantas esperanças vãs! Ninguém podia me salvar. Estavam todos ocupados com suas próprias enchentes. Embora, no meio do terror, eu não pudesse enxergar isso. Num dado momento, apareceu uma tábua – convicção de que eu tinha de me manter viva -, agarrei-me nela com toda a gana desesperada de quem chega às portas da morte. Uma hora – que parece nunca chegar -, as águas baixam. Resta lama, muita lama para limpar. Destroços, detalhes que eram guardados com tanto zelo, lembranças, souvenir’s de belos momentos... a enchente levou tudo!
Assombroso. E, por incrível que pareça, esse não era o mais aterrador. Sim o fato de descobrir que eu poderia viver sem tudo isso. Eu posso! Na alma, as cicatrizes desenhavam uma forma indefinida mas, não agride os olhos. Todos os meus medos me sequestraram. Já conheço suas faces. Agora tenho menos medo dos meus medos. Esse não é um enredo de um conto onde todos vivem felizes no final ou para sempre. É só um conto onde enquanto se vive, faz-se tudo para se continuar vivendo. Não ganhei nem uma aposta milionária, nem fui ver o pôr-do-sol na Riviera francesa.
Arregacei as mangas e, embora fosse difícil sair do meu mundo quimérico, onde tudo dá certo no fim das contas, encarei a vassoura e a pá. Comecei a limpar a sujeira. Limpo todos os dias. Erro, erro muito. Algumas vezes, tenho de engolir meu orgulho e arrogância e dizer que não sei o que estou fazendo. Peço ajuda. Envergonho-me de não ver o óbvio. Conheci minhas fraquezas. Não sou feliz todos os dias, nem sempre o vento parece me dar asas como nos tempos de outrora. 
Às vezes, só me lembro que está muito frio. Nem todos os dias tem banquete, nem a mesa está posta com toalha de linho e copos de cristais. Mas todos os dias tem pão, trazido com o esforço do trabalho. O sorriso, por tantas vezes é débil, esconde a lágrima que teima em querer sair. Não sou uma super-heroína. E nem sei se algum dia vou figurar nas páginas da história. Apenas sei dizer que nesse momento estou viva e é o que me basta por agora.

TODOS ESTÃO BEM, MENOS EU

"Há dias que eu não sei o que me passa Eu abro o meu Neruda e apago o sol Misturo poesia com cachaça E acabo discutindo futebol Mas não tem nada, não Tenho o meu violão Acordo de manhã, pão sem manteiga E muito, muito sangue no jornal Aí a criançada toda chega E eu chego a achar Herodes natural Mas não tem nada, não Tenho o meu violão Depois faço a loteca com a patroa Quem sabe nosso dia vai chegar E rio porque rico ri à toa Também não custa nada imaginar Mas não tem nada, não Tenho o meu violão Aos sábados em casa tomo um porre E sonho soluções fenomenais Mas quando o sono vem e a noite morre O dia conta histórias sempre iguais Mas não tem nada, não Tenho o meu violão Às vezes quero crer mas não consigo É tudo uma total insensatez Aí pergunto a Deus: escute, amigo Se foi pra desfazer, por que é que fez?  

Mas não tem nada, não Tenho o meu violão"

(Cotidiano nº 2 , Toquinho)

E sigo meus dias sem torno de reflexões dos atropelos da minha vida. 
Mulher de meia idade em crise! E sem violão. Nem tocar eu sei. Nem violão eu tenho. Também não estou optando pelos porres.
Pra ser franca, também não acho que todos estão bem e apenas eu estou mal. Felizmente já tenho passado dessa fase faz um tempo. Parei de ser picada pela questão da alta exposição às mídias sociais e acreditar nas fotos que todos mundo coloca. 
Francamente, eu estou bem, dentro do que consigo fazer diariamente, há dias que mais, outros menos... Paciência.
Tomo remédio para ansiedade generalizada. Oh! Os gurus andam ganhando fortunas usando isso em suas palestras promentendo sei lá o quê, não cheguei a conclusão do tipo de solução que eles dão. Mas sempre tocam no assunto do mal do século e das patologias  mentais, como depressão, ansiedade, pânico... não que eu esteja fazendo pouco desses problemas, ao contrário, eu os conheço muito bem e sei da possibilidade de paralisia que eles podem causar, chegam a falar mal de fármacos como se fossem só vilões. É notório que no Brasil, há um uso bem marcante de remédios para depressão e ansiolíticos, no entanto, é precisoeducar a classe médica, e não vilanizar completamente os fármacos e muito menos, com isso fazer com quem os tome se sinta mal por ter de fazê-lo.  
A grande questão é que sempre que essas pessoas acham soluções milagrosas, tentam fazer com que as demais mortais que tomam medicamentos , pareçam fracas, sem vontade. É preciso tomar muito cuidado com isso. Fármacos são necessários em muitos casos e não devem ser ignorados. A misericórdia divina existe, mas se ele não achasse que o homem poderia nos ajudar com conhecimento da medicina, não teria dotado alguns com essa capacidade e habilidade. O poder da mente e da alimentação também têm sua importância, nada está dissociado quando se tratade saúde, todavia, não podemos achar que vai haver um caminho milagroso que de repente vai nos aliviar e todos sintomas que foram causados por uma conjução de fatores. 
Nenhum problema de saúde mental vem da noite para o dia, e, ele vai se alimentando do nosso ambiente interno, de nossos pensamentos, de nossos medos, de nosso estado geral de saúde física, frente a isso, não é da noite para o dia que ele também irá embora como uma febre, merece cuidado e compreensão. 
Cautela, quando alguém lhe oferece atalhos para resolução de seus problemas, podem ser mais um elemento de retardo na sua recuperação.